Sei que sofro de uma doença horrível, que chega até a matar. Mata o doente, ou o alvo da doença. O pior é que não é doença física, mas mental. De cura difícil, quase impossível, ela pode, no entanto, com muito tratamento, ser controlada, amansada, escondida.
Esta doença é a Síndrome dos Filhos de Quem Tem.
Quando adolesci (segundo a minha terapeuta, aos 20 e poucos anos), tinha crises horríveis de identidade e ódio por causa dela. Por que meu pai controlava tudo na minha vida. Por que eu não era nada, por que eu não tinha nada. Por tudo e por nada. Mas os anos se passaram, a terapia continuou, eu amadureci, cresci, criei luz própria (sem precisar mais negar o meu pai, como eu e outros colegas de doença fizemos) e achei que tinha domado a minha doença de vez, até me esqueci de prestar atenção a ela.
Aí ontem aconteceu: Mais uma vez. Meu pai tinha me prometido comprar-me um apartamento para quando eu me casasse com Cisne. Disse que eu fosse me organizando e procurando algo pois, quando ele tivesse dinheiro, seria para de uma hora para outra, em oito dias, comprarmos. Aí ele ontem fez de novo. Disse que me deu esperanças falsas, mas que não poderia comprar nada nem tão cedo. Que ele tinha sonhado em voz alta sem perceber que eu estava perto, e me deixei carregar. Que ele talvez - talvez - comprasse algo, sim, mas quando vendesse o apartamento em que mora. Em resumo: Que eu me explodisse.
E o que fico mais danado não é por ele ter feito isso, mas é ter caído de novo na mesma esparrela em que caio a tantos anos. Estou danado comigo mesmo por ter caído de novo, por ter-me deixado levar pelo canto da sereia, que me levou a uma recaída da minha doença.
Agora vou arrumar um abrigo até que a tempestade (emocional) passe. Depois a gente conversa mais!