domingo, 21 de março de 2021

O Abraço

 Um gesto simples. Você vai até uma pessoa, abre os braços e, quando seu tórax toca no dele(a), fecha os braços e aperta.

Soa estranho dito assim, né? Até invasivo e violento, mas na verdade é talvez o gesto mais carinhoso e reconfortante que existe. Talvez seja a melhor coisa que existe, quem sabe? 

E aí mesmo tempo é tão simples, tão natural que você nem nota que abraçou o colega de trabalho, o conhecido que não vê a muito tempo, o amigo,  parente, pai, filho...

E aí chegou a praga, e as pessoas ficaram com medo de tocar umas nas outras. Não se vê mais os parentes, quanto mais abraçar! Não se toca nos colegas de trabalho, nem mesmo se aperta as mãos... Tocar virou ameaça de morte.

E eu fiquei preso. Na rua, com medo até de tocar nos outros. Em casa, dormindo com o inimigo, nem esbarrar é permitido, quanto mais abraçar! Estou a um ano com apenas um abraço de meu pai e um de minha mãe, através de uma cortina de plástico, mais um que roubei de minha sogra.  Ah, o senhor diz, e os meninos?

OK, se peço muito eles me abraçam, mas são crianças, não entendem o que se passa, não sabem o quão legal E nutritivo para a alma este gesto pode ser.

E aí? O que faço? 

Converso com o senhor, meu único leitor.

Um Ano de Pandemia

 Esta semana completei um ano que fui mandado trabalhar em casa por causa da Pandemia.

Lembro que naquela época, alimentado por livros e documentários sobre pragas, o medo e a incerteza me cercavam. Me despedir de meus colegas de trabalho foi uma das coisas mais estranhas de minha vida. Ninguém sabia quando nos veríamos de novo, SE nós veríamos de novo, se ainda teríamos empregos... A tristeza e a incerteza pairavam no ar como uma névoa negra.

Mas as previsões de milhares de mortes por dia graças a Deus não se concretizaram, os números baixaram e pudemos voltar a trabalhar presencialmente, viajei a trabalho (morrendo de medo dos hotéis, dos aviões e até dos carros), me tornei parte da equipe mais legal que já vi, e no geral tive um ano excelente.

Mas aí peguei a doença, e pior: enquanto negava até para mim mesmo, transmiti para minha esposa, que precisou ser internada. Passamos as festas isolados de nossos filhos, vendo-os apenas por videoconferência. 

Mas sobrevivemos, com cicatrizes, mas sobrevivemos, e agora estou de novo trabalhando em casa, enquanto a nova onda de mortes assola o Brasil e a vacinação avança a passos de cágado. Entes queridos começaram a morrer, mas ainda tem gente que ignora o que está à sua volta.

Quanto tempo isto vai durar? Não temos como saber, apenas posso rezar, tomar cuidado e esperar.

Que o senhor, meu querido e único leitor, também sobreviva, e sua família também!