domingo, 21 de março de 2021

O Abraço

 Um gesto simples. Você vai até uma pessoa, abre os braços e, quando seu tórax toca no dele(a), fecha os braços e aperta.

Soa estranho dito assim, né? Até invasivo e violento, mas na verdade é talvez o gesto mais carinhoso e reconfortante que existe. Talvez seja a melhor coisa que existe, quem sabe? 

E aí mesmo tempo é tão simples, tão natural que você nem nota que abraçou o colega de trabalho, o conhecido que não vê a muito tempo, o amigo,  parente, pai, filho...

E aí chegou a praga, e as pessoas ficaram com medo de tocar umas nas outras. Não se vê mais os parentes, quanto mais abraçar! Não se toca nos colegas de trabalho, nem mesmo se aperta as mãos... Tocar virou ameaça de morte.

E eu fiquei preso. Na rua, com medo até de tocar nos outros. Em casa, dormindo com o inimigo, nem esbarrar é permitido, quanto mais abraçar! Estou a um ano com apenas um abraço de meu pai e um de minha mãe, através de uma cortina de plástico, mais um que roubei de minha sogra.  Ah, o senhor diz, e os meninos?

OK, se peço muito eles me abraçam, mas são crianças, não entendem o que se passa, não sabem o quão legal E nutritivo para a alma este gesto pode ser.

E aí? O que faço? 

Converso com o senhor, meu único leitor.

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